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Nem erudito nem popular.

02/01/2012 16:10

 

A Cultura brasileira representada em Evento institucional do Governo Federal e lançamento de livro “Nem Erudito Nem popular” de Bené Fonteles, ratifica a diversidade cultural do país.

Cátia Garcez*

 

Aconteceu entre os dias 25 a 31 de março, em Fortaleza-Ceará a TEIA BRASIL 2010, encontro dos pontos de cultura e da diversidade efervescente de ritmos e performances da Cultura brasileira. Para as pessoas que não estão antenadas para esta rede de estruturas que não se pode dizer puramente de instância governamental nem tão pouco  puramente popular, não é de se estranhar que diga-se que a Cultura no Brasil vai de mal a pior. Esta afirmação cai por terra de forma instantânea, ao nos depararmos com a programação deste evento. Começamos por admitir que não conhecemos a cultura do nosso país e que o processo de discussão entre o erudito e o popular está cada vez mais insignificante do ponto de vista do povo  pois a relevância do debate sempre foi destaque para o mundo erudito e acadêmico, visto sempre como uma cultura maior, debate este fortalecido pela produção do discurso através do instrumento de exclusão da “vontade da verdade” como afirma Foucault (2004).

 

 A Teia “reflexão, compartilhamento e aprofundamento dos conceitos e práticas das iniciativas das Ações do Programa Cultura Viva” (Programa da Teia) é  na verdade um espaço de ação – reflexão - ação desencadeada por três aspectos relevantes. Inicialmente pela persistência da cultura popular em continuar existindo independente de desmerecimentos governamentais ou de teóricos conservadores que defendem uma superioridade das Artes e entre as linguagens artísticas. Segundo, pela sociedade civil organizada, artistas e agentes culturais que dedicaram o seu tempo para discutir cultura e traçar princípios norteadores para

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*Mestranda em Crítica Cultural. E-mail: catiagarcez@hotmail.com

 

o teatro, dança, circo, artesanato, as artes plásticas, o áudio-visual, música e a cultura popular voltadas para o fortalecimento das identidades e diferenças deste Brasil tão desigual. Terceiro

aspecto que desencadeou a TEIA a iniciativa governamental, e neste momento é impossível negar a participação fundamental do o Governo Lula, que se apresenta como marco divisor da história da cultura brasileira, através de nomes como Gilberto Gil que enfrentou os problemas da Cultura e a entende  metaforicamente como “A Argamassa de um novo projeto Nacional” conforme afirmou o ex-ministro, em seu discurso de Posse, já então engajado na proposta do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ser guiado por um governo voltado para o reconhecimento e valorização  da vontade das minorias.

 

Só através desta Concepção de Cultura temos nos dias de hoje, oportunidade de assistir numa mesma noite Chico Cesar da Paraíba, Dona Zefinha do Ceará e a Banda Trilheiros do município de Andaraí-Bahia. Exibindo diversidade, firmamento do processo de descentralização geográfica (não mais priorizando o circuito Rio - São Paulo) e valorização da expressão cultural independente de circulação midiática, visto que os artistas citados acima não têm acesso à programação da Rede Globo. Infelizmente para nós baianos, ainda somos poucos selecionados para o evento, apesar de termos 265 pontos de cultura no nosso Estado. Alem do citado acima, somente mais três iniciativas se apresentaram na TEIA: O Circo do Capão de palmeiras, o samba de roda Raízes de Acupe, distrito de Saubara e a Fundação Pierre Verger de Salvador.

 

O Governo Federal desenvolve ações voltadas para o incentivo e preservação de iniciativas para a cultura digital, Escola viva, Griô e etc. São 1704 pontos de cultura e a Bahia é o terceiro Estado que reúne o maior número de Pontos. Além das ações voltadas para os pontos de Cultura o Ministério da Cultura ainda oferece prêmios que mediante inscrições de projetos e descrição de iniciativas qualquer pessoa pode captar recurso para fortalecer ações de relevância cultural. Além disso, existem muitos editais da Secretaria de Identidade Cultural (ver site: www.cultura.gov.br/diversidade) que disponibilizam recursos públicos para grupos  ainda considerados como minoria a exemplo  dos negros, índios, GLBT, mulheres, idosos, portadores de deficiência, todos voltados para o fomento da cultura destes ou nestes grupos.

 

È claro que a maioria dos meios de comunicação continua indiferente a tudo isso e  nega-se a informar a população sobre esses editais e seus prazos de inscrição, dificultando que mais pessoas se inscrevam e  fortaleçam suas comunidades.Aqui na Bahia, a indiferença da TV Bahia, dos jornais A Tarde e Tribuna da Bahia chega a ser perversa, mas certamente isto se dá devido aos interesses políticos partidários que aqui não temos espaço para discorrer. O Fato é que o material de propaganda do governo ainda é muito tímido visto a extensão geográfica do Brasil e a sua diversidade. Além da incapacidade da maioria das pessoas (público alvo destes editais), em elaborar projetos; considero a dificuldade em acesso as informações um dos maiores inimigos desta política Cultural visto que, a maioria dos brasileiros ainda não tem acesso a internet e os prazos dos editais na sua maioria se apresentarem curto demais  em relação a morosidades  com que a notícia chega a quem verdadeiramente interessa.

 

Por ultimo,ainda discorrendo sobre a TEIA é relevante destacar o lançamento do Livro de Bené Fonteles  “ Nem  é erudito Nem é popular – Arte e Diversidade Cultural no Brasil publicado  em parceria com  a Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Ministério de Cultura . O Livro, verdadeiro arsenal da cultura brasileira  e dedicado a Mário de Andrade e Luiz Gonzaga obriga o leitor já ao constatação a dedicatória, fazer uma viagem histórica sobre o processo de   afirmação da cultura deste país, desde o questionamento “Tupi, or not tupi that is the question” do Manifesto Antropófado publicado em 1928 e esta relação com o rei do Baião Luiz Gonzada, representação do popular na essência da palavra . No  final do livro, depois de apresentar imagens belíssimas que  contam por si mesmas onde está localizado o erudito e o popular na cultura brasileira, o autor apresenta um texto sob o título “diálogo inspirador com o diverso” relatando a relação ambígua  e antagônica do popular e do erudito como tentativa de ampliar esta convivência.  Afirma que nas questões entre erudito e popular, os dois times, mesmo no empate saem ganhando e conclui “ Felizmente, o  que vem do popular e se faz erudito, ou vice-versa, é como dois em um: A Entidade – Unidade no mar sem fim da diversidade. Uma boa referência, tanto para os pesquisadores, artistas populares e eruditos e para todos aqueles que se consideram amantes da cultura brasileira.

 

 

 

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