ARTE, CULTURA E AUTOCONHECIMENTO PARA MELHOR QUALIDADE DE VIDA


INFORMAÇÃO, A CAÇA AO OURO

03/01/2014 17:42
Há não mais que vinte anos, escrevíamos cartas para os amigos, 
 
contávamos as notícias e confidencias, através de palavras escritas, imaginando qual seria 
 
a reação do destinatário quando recebesse aquela correspondência; dirigíamo-nos para o 
 
correio e lá, após suaves lambidas para colar o envelope, ou sujar as mãos no pote de goma 
 
provavelmente confeccionada pelo funcionário do estabelecimento, selávamos a carta e a 
 
depositávamos na caixa. Telefone era algo inatingível, direito exclusivo da classe média 
 
alta e o computador era considerado ficção científica para a maioria dos brasileiros. Muita
 
coisa mudou! Com a globalização, vieram a internet, os celulares e toda a tecnologia que
 
favorece e agiliza a comunicação entre os homens. Então, no mundo globalizado, tem
 
poder quem tem informação e a informação passa a valer mais que o dólar, que o euro, ou 
 
que o próprio ouro, pois o indivíduo que tem acesso à informação chega na frente das 
 
pequenas e grandes operações e empreendimentos, tornando-se cada vez mais rico e 
 
certamente tornando centena de milhões de pessoas mais pobres. O melhor aparelho celular 
 
é o que será lançado no mercado amanhã, o seu, comprado hoje pela manhã está 
 
completamente ultrapassado, sua operadora de internet nunca atenderá suas necessidades, 
 
pois sempre estará mais lenta em relação a mais nova do mercado; a capacidade de 
 
memória do seu computador é medíocre comparada àquele último divulgado na tv shop. 
 
Junto ao fervor consumista desencadeado pelo acesso a informação ou a busca da mesma, 
 
aparecem as disputas entre os internautas e os resistentes, que num insano debate buscam 
 
no extremo a justificativa de suas idéias.
 
Primeiro, a idéia de que os livros serão desprezados pela sociedade em 
 
detrimento das novas mídias. De quais livros estarão falando e de quais leitores estaremos 
 
querendo preservar o direito de experimentar o manusear página a página de uma agradável 
 
leitura? Seriam as obras de Shakespeare ou as obras de Nelson Rodrigues que seriam 
 
largadas num canto? E quais são mesmos as pessoas que lêem estes livros? Partindo do 
 
principio que nós brasileiros não temos o hábito da leitura, então ter acesso a resumo de 
 
obras, como as citadas acima, na internet poderia ser um bom instrumento de estímulo 
 
para a leitura, ou não? No entanto, podemos perceber que A internet está tão distante do 
 
povo quanto às obras de Shakespeare, ou Nelson Rodrigues, ou Drummond, ou Fernando 
 
Pessoa ou Castro Alves. Para ter acesso à internet ou a literatura é preciso ter dinheiro, pois 
 
sabemos que sempre foi muito caro o acesso a informação, o acesso a cultura, o acesso a 
 
educação de qualidade. Então qual seria mesmo a discussão?
 
Segundo, a grande polemica da perda social que o contato com a máquina nos 
 
obriga. O Homem, a máquina e a solidão. Esta preocupação me parece bastante poética, 
 
filosófica e de certa forma hipócrita. Quem seriam estes internautas solitários? Os jovens 
 
de famílias de classe média, que investiram em escolas e faculdades que preparam seres 
 
humanos unicamente para o sucesso profissional? Os pobres e miseráveis continuam 
 
batendo o baba, no campo de terra, nos finais das tardes. Os ricos continuam nos cinemas, 
 
nos clubes, em viagens e quando navegam e navegam sempre, é através de seus Lep-
 
top de última geração... Há muito já não nos tocamos... Há muito, os psicólogos vem 
 
alertando para a necessidade de recuperar o diálogo entre as pessoas, família, escola, 
 
definitivamente não foi a globalização que nos transformou em solitário. Existem milhões 
 
de interesses, inclusive em cifras bem maiores que milhões, que estão por trás da 
 
magnitude da globalização, no entanto, foi a necessidade de uma alternativa para o diálogo 
 
e a informação que gerou este processo.
 
Então, a inclusão digital é importante para quem? Os excluídos necessitam 
 
do computador ou as empresas de informática precisam vender máquinas, programas e 
 
etc. Certamente os livros poderiam ser mais baratos nas livrarias e toda escola aliado a 
 
importância de adquirir uma rede de computadores deveriam ter uma biblioteca, ambos 
 
essenciais para a garantia da qualidade de ensino. Sempre existirão livros e leitores, o 
 
importante é definirmos a importância que isto tem para a nossa sociedade globalizada.È 
 
inegável que a informação é o nosso bem mais valioso, no entanto o meio ou a mídia 
 
que o brasileiro usará para chagar a essa informação deve ser de sua própria escolha, 
 
portanto deve ter acesso a bibliotecas, a internet, a periódicos, a tv, ao cinema, ao teatro e 
 
principalmente á escola pública de qualidade que viabilize este acesso.
 
Quanto à solidão que abate o homem é nada mais, nada menos, reflexo de uma 
 
educação familiar e escolar, onde não nos habilitam a selecionar as informações que 
 
recebemos durante toda a nossa vida, para servir ao nosso interesse e felicidade. Queremos 
 
informações, mas não sabemos para que a queremos e isto desencadeia um grande vazio 
 
social que nos obriga cada vez mais a pertencer a menores grupos afins, pois diante de 
 
tantas informações, encontrar pessoas que apresentem cumplicidade intelectual torna-
se raro, diante de tantas informações intercaladas a contextos culturais e aptidões do 
 
indivíduo. No entanto, nossas preocupações devem apresentar-se como forma de repensar 
 
a solidão, como um momento de casulo que se metamorfosear, buscando novas formas de 
 
relação, pois o homem assim o é: um ser social!

—————

Voltar