ARTE, CULTURA E AUTOCONHECIMENTO PARA MELHOR QUALIDADE DE VIDA


Gravidez na adolescência

05/01/2012 16:13

TEXTO DIDÁTICO

TEMA: Gravidez na adolescência

SUBTEMA: Prostituição e aborto

AUTORA: Cátia Santana

 

Personagens:  

Afonso (48 anos)

Dona Júlia (40 anos)

Tita (16 anos)

Martinha (16 anos)

Antônio José (23 anos)

Vanda (mulher de 40 anos)

Vizinha - Dona Helena

 

CENA I

O palco está dividido por uma parede com uma porta no meio: do lado direito uma sala com uma TV  pequena sobre uma mesa,um sofá, duas cadeiras, aparelho de  telefone em cima de uma mesa de canto uma janela  ao fundo. Do lado esquerdo, um quarto com uma cama de solteiro, uma penteadeira com alguns objetos pessoais, um banco e ao fundo uma porta de um suposto banheiro.

 Entram Martinha e Tita na sala.

 

Martinha - Tenho uma coisa pra te contar, mas pelo amor de Deus, não conte para ninguém!

 

Tita - Claro Martinha pode confiar!

 

Martinha - Quero aproveitar que meus pais não estão em casa... (olha para os lados) Lembra do Antônio José, Tone, aquele bonitinho que anda de boné o tempo todo? (tentando fazer a amiga lembrar).

 

Tita - Sei! Sei quem é! Um gato! (lembrando) Já vi vocês de papo...

 

Martinha - Pois é,tem já um tempo que estamos namorando.

 

Tita - (Sorrindo) Sortuda! Porque não me falou antes?

 

Martinha - Sei lá! Queria ver se dava certo.

 

Tita – Sei? E então... Ele beija legal! Ele é quente ou é daquele respeitador?

 

Martinha - Quentíssimo minha filha! Estou completamente apaixonada... Estou fazendo o maior esforço para não me entregar (suspira sonhadora e animada).

 

Tita - Martinha! Martinha olha lá o que vai fazer! Tem que ficar esperta! Matar a vontade sem correr risco.

 

Martinha - Você acredita que ele já me pediu uma prova de amor... (suspirando) ontem quase que acontecia.

 

Tita - Ele estava usando camisinha? Por que esses caras são assim... ficam doidos pra afogar o ganço, mas na hora da camisinha ficam cheios de desculpas...Olha que você engravida!

 

Martinha - Etá! Não é possível que eu vá dar esse azar...

 

Tita – Azar? Tem nada haver com azar não minha filha... nem azar nem sorte! É melhor você se prevenir! Mande-o usar camisinha! Além de evitar gravidez, ainda evita pegar uma doença venérea.

 

Martinha - Você acha que um gato daquele pode ter alguma doença? Ele parece um Deus grego!

 

Tita - Vá nessa! Quem vê cara não vê coração! Tem gente que tem AIDS e nem sabe... e tem mais se você engravidar tua mãe te mata!

 

(Entra Dona Júlia, a mãe de Martinha)

 

Júlia – Ola meninas... Porque todas as vezes que eu chego vocês fazem silêncio? Quanto segredo!

 

Martinha - Não é nada mãe... Vamos lá para o quarto terminar o trabalho da escola Tita!

 

Tita- (Só para Martinha) Quase ela ouve a nossa conversa! Acho melhor eu ir pra casa... (volta em direção a sala) . – Eu vou indo Dona Júlia...

Júlia – Não ia terminar o trabalho?

Tita – (envergonhada) Não... É...  Eu lembrei, que tenho de arrumar a casa antes que minha mãe chegue... A coroa vira uma fera quando não faço minhas tarefas domésticas... Até logo.

Júlia – Essa Tita é um amor de garota... Você devia...

Martinha – Já sei... já sei... eu devia olhar o exemplo de Tita ... Que ajuda a mãe em casa e tira boas notas na escola... Eu não faço nada disso não é ?

Júlia – Eu não Isa dizer nada disso... Ia falar que  você devia convidar ela pra ir para o sítio neste final de semana...

Martinha – Eu não vou convidar a Tita porque eu não vou pro sítio com vocês.

Júlia – Marta, eu sei bem o que está passando pela sua cabeça... depois que voc~e passou a namorar com esse rapaz, ficou de cabeça virada... Não se pode falar nada que voce fica na defensiva... Você gostava tanto de ir pro sítio filha.

Martinha – Eu não sou mais criança mãe... e Você não vai poder me controlar a vida inteira.

Júlía – Eu não quero te controlar... Quero te proteger... O fato de estar apaixonada por aquele rapaz, não transforma ele no homem da sua vida... Você é jovem, e não deveria ter uma relação tão séria.

Martinha( interrompendo) – Não sei do que está falando!

Júlia – Sabe sim... Deixe de ser dissimulada... Tô falando de desejo, de atração, de sexo e de tudo que isso pode trazer pra sua vida agora... Eu sei que é você quem deve saber a sua hora... mas tem que estar preparada para enfrentar  a vida.

Martinha – Como é que sabe que eu não estou preparada? Você precisa confiar em mim?

Julia – Eu confio em você. Só não te acho preparada para enfrentar, por exemplo uma gravidez...

Martinha – Quer saber, chega de conversa... Com você não dá pra ter um papo legal... Que paranóia... Tudo agora é esse papo de gravidez! Estou cheia disso!Chega ta mãe?

Júlia – Você é quem sabe! Só vou te dizer mais uma coisa... Seu pai não terá a mesma compreensão que eu tenho com você... Ele não te perdoará se algo sair errado por causa de uma irresponsabilidade sua.

Martinha – Tá! Tá! Tá! Eu já entendi tudo...Agora eu vou pro quarto ta.(sai)

 

 

 

Afonso - Eu continuo achando que deveríamos proibir Martinha de namorar aquele rapaz.

 

Júlia - Ora Afonso! O que quer que eu faça? Ela já tem 16 anos...O que eu posso fazer é orientar sobre os riscos de se fazer sexo sem se estar preparada.

Afornso – (grita) Sexo! Ela falou em sexo! Eu mato ela... Imagine... uma menina de 16 anos... ela tem tanta coisa pra fazer antes disso! Será que aquele moleque fez alguma coisa com minha filha? Eu mato ele!

Júlia – Calma Afonso... Não aconteceu nada...

Afonso – (senta)tem certeza?

Julia – Ainda...

Afonso – (Levanta) precisamos fazer alguma coisa... vamos mandá-la pra casa de sua irmã... Lá em Maragogipe.

Júlia – Minha preocupação é  que ela engravide ou  sei lá pegue uma doença venérea, uma AIDS...

Afonso – Deus é pai... (tentando mostrar controle da situação) Eu vou conversar com ela...

 

 

 

Afonso - É uma criança! Aquele tal de Antônio José é um marmanjo. Eu sei muito bem o que ele quer com minha filha.

 

(Saem de cena, e entra Martinha correndo e se joga no sofá chorando, logo depois entra Antônio José)

 

Antônio José - Deixa de drama, Martinha (fala observando os lados) Agente precisa resolver logo isso. É coisa rápida...

 

Martinha - Você disse que (soluços e lágrimas) se eu engravidasse você casava comigo.

 

Antônio José - Você é louca menina? Eu tenho 23 anos... Acha que eu vou estragar minha vida com um casamento, só porque você deu vacilo.

 

Martinha - Eu? Eu pedi pra você usar camisinha!

 

Antônio José - Eu lá ia imaginar que com apenas uma transa, você ia pegar filho?

 

Martinha - E agora! O que eu faço! Minha mãe vai me matar é meu pai... (histérica) Meu pai vai dar um infarto!

 

Antônio José - É simples... Já arrumei as coisas, você vai numa clínica e faz o aborto. Eles dão alta no mesmo dia e seus pais nem precisam saber.

 

Martinha - Pra você é fácil... Uma vez eu comparei você com um Deus grego, mas você não passa de um grosso.

 

Antônio José - Você faz drama! Foi vacilo e daí? Eu não quero ser pai aos 23 anos e muito menos, me casar com uma menina como você.

 

Martinha - Sai daqui sei cínico! Sai! (deita-se no sofá e chora) Eu tenho medo! Como posso fazer aborto? E se eu morrer?... E o nenê?

 

(Antônio José sai e entra a mãe de Martinha).

Júlia - O que foi? Brigaram de  novo?

 

Martinha - (Limpando as lágrimas) Eu estou grávida!

 

Júlia - O que? (vai à direção da filha) O que você disse?

 

Martinha - (Histérica) Eu estou grávida! Perdoa mãe! Me perdoa! Papai estava certo! Eu ainda sou uma criança estúpida.

 

Júlia - Como? Como pode ser?

 

(Entra Afonso)

 

Afonso - O que esta acontecendo?

 

Júlia - Esta vagabunda está grávida! Ela está grávida! (acusadora).

 

Martinha - Perdão pai... Perdão! Eu... Sinto muito.

 

Afonso - Pegue suas coisas e vá embora, desta casa... Se você foi adulta para ir pra cama com aquele moleque deve saber cuidar de se mesma... Quando voltar não quero mais te ver aqui.

 

(Afonso sai enquanto a mãe está de costas para a filha que chora)

 

Martinha - Mãe, por favor.

 

Júlia - Faça o que seu pai mandou. Eu não sou mais tua mãe! (sai)

 

Martinha - Eu não tenho pra onde ir! Mãe me ajuda... Ele quer que eu aborte. Eu tô com medo mãe! Me ajuda (Martinha sai lentamente).

 

(Entra o pai e a mãe de Martinha, sentam-se no sofá tristes. Batem na porta Júlia vai atender).

 

Júlia - Olá dona Helena, entre!

 

Dona helena - Desculpe vir aqui a essa hora, mas essa moça esteve lá em casa e me pediu que a trouxesse aqui.

 

Júlia - Não estou entendendo. (o pai se levanta)

 

Vanda - (Mascando chiclete) A senhora já vai entender. Meu nome é Vanda e não se preocupe que não vim roubar sua casa.

 

Júlia - (Para a vizinha) Continuo sem entender.

 

Vanda - A senhora não é a mãe da Martinha? O Sr. deve ser o pai.

 

Afonso - A senhora conhece minha filha?

 

Júlia - Não vimos Marta há mais de três semanas.

 

Helena - Marta está na casa dessa senhora!

 

Vanda - É, tá lá coitadinha... E não me olha com essa cara não, que eu fui a única que deu a mão para ela. O carinha que engravidou a moleca deu uma grana pra ela abortar... Ela abortou o neto de vocês, sabiam.

 

Júlia - Meu Deus... Ela é louca!

 

Vanda - Louca? Ela é uma criança isso sim.

 

Afonso - A final, o que a senhora deseja?

 

Vanda - Eu não desejo nada meu chapa. Eu vim aqui para contar uma historinha pra vocês.

 

Júlia - Não queremos ouvir nada da senhora!

 

Vanda - Vai ouvir sim... Vocês fizeram exatamente o que meus pais fizeram comigo e eu não tive opção... Fui pra rua, abortei meu primeiro filho e fui fazer vida pra sobreviver... Mas tua filha não dá pro negócio... Diz que preferi morrer a vender o corpo essas besteiras todas... Só que eu não vou ser babá da filha de vocês... Alias se continuar daquele jeito, ela vai morrer logo, logo... Não se alimenta... Só fala em morrer...

 

(Júlia leva as mãos ao rosto e chora).

 

Afonso - Onde estar a nossa filha?

 

Vanda - Num quartinho alugado perto da zona.

 

Júlia - Ai meu Deus! O que nós fizemos Afonso?

 

Afonso - Vamos buscá-la! (saem todos).

 

(Entra as duas amigas).

 

Martinha - Às vezes eu acho que tudo aquilo foi um pesadelo...

 

Tita - E eu nem acredito que você teve coragem de abortar...

 

Martinha - Cometi todos os erros e a mais prejudicada foi minha própria vida.

 

Tita - Ainda bem que teus pais te perdoaram.

 

Martinha - Tive sorte... Mas eles não me olham mais como antigamente... Não sou mais a mesma pessoa... Me custou muito caro aprender que sexo é coisa séria e gravidez na adolescência é sinônimo de ignorância.

 

Tita - Você achava que não ia acontecer com você, só com os outros!

 

Martinha - É verdade, a gente sempre acha que essas coisas só acontecem com os outros.

 

Tita - Agora não adianta chorar pelo leite derramado.

 

Martinha - É isso... Agora, só quero estudar para ser alguém que meus pais possam se orgulhar de mim...

 

Tita - Boa idéia... Vamos terminar o trabalho da escola. (saem)

 

 

FIM!  

 

 

 

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